domingo, 19 de dezembro de 2010

Ela é Assim



Conheço-a há anos. Crescemos juntas, posso até dizer que ela é outra parte do meu eu. Podemos não ser as melhores amigas deste mundo, mas temos uma pela outra um carinho enorme e respeito mútuo.
Quando éramos miúdas eu comecei aprender a conhecer e respeitar esta menina de poucas palavras, poucos amigos, humilde, mas de convicções fortes e vincadas, que amava a mãe e tinha um carinho especial pelo pai. Ela sempre viveu uma batalha interna dura por amar demasiadamente o pai, embora também amasse a mãe. E este sentimento de culpa posso assegurar-vos que ela carrega até aos dias de hoje.
vocês poderão perguntar porque estou a escrever sobre a minha amiga, a outra parte do meu eu, como carinhosamente digo. Mas foi ela que me pediu que o fizesses, só ela poderia expor os seus medos, a sua alegria, aquilo que ela foi e aquilo que ela é hoje. Acho que partilhar parte destas coisas com vocês a faz tornar mais leve, se calhar bem lá no fundo, esta seja a forma que ela encontrou para pedir ajuda. Porque sinceramente acho que ela precisa de ajuda, de muitos que disseram ser amigos e que hoje decidiram abandonar-la. Ela sempre foi amiga a extremo, ela dá tudo que tem e não tem, e isto não é de hoje, mas sim de tempos que ainda éramos miúdas.
Acho que ela sempre foi uma sofredora, sempre deixou que os problemas dos outros a marcassem e neste momento sinto que ela está desistindo de tudo e todos. Ela tem receio do mundo real, deixou os amigos com a qual cresceu, pessoas que ela conheceu, amizades que fez mesmo já adulta e passou a viver no seu mundo virtual. Ela quando vira-se para mim e diz que o amigo tal.....já sei que é um amigo virtual, pois ela não lida, não convive com pessoas reais.
Ela tem conversando comigo, horas, talvez eu seja mesmo a única pessoa real que ela mantém uma amizade, que ela se abre, chora e diz o que lhe vai na alma. Quando penso no sofrimento dela, choro, pois consigo entender-la como se fosse a mim mesma. Ela cresceu, decidiu viver sua vida muito cedo, construir sua própria família, pois apesar de amar seu pai demasiadamente e ele ter sido fantástico com ela e os irmãos, ela reconhece que a maneira que ele tratou a mãe não foi a melhor, coleccionando amantes, enfim, ela tem a dimensão do sofrimento da mãe e hoje e depois de tantos anos, ela decidiu que prefere acabar sozinha a ter que tornar numa esposa submissa. Quem não sabe o que vai dentro dela jamais a entenderá, mas como a entendo, meu Deus.
Ela também viveu uns anos felizes, pelos menos tentou ser a maneira dela. Mas em alguma parte do tempo, ela começou a reviver a infância e para não sofrer mais ela vive no seu mundo, mas o sofrimento é uma constante. eu pessoalmente sei que ela precisa de ajuda, ajuda médica especializada. Nesta época natalícia é a que mais acaba com ela emocionalmente, mas ela faz de tripas o coração e apesar de todo que está mexendo com ela, todos os dias ela está lutando para o bem estar material da família, pois amor....não acredito, pois ela está seca por dentro. Ela ama os filhos naturalmente, deseja que o pai dos filhos dela seja feliz, mas ela quer viver assim, sozinha, se castigando e punindo de algo que não sei bem o porquê. Já a disse que ela é apenas um ser humano, com direito a errar e acertar, arrepender, com virtudes e defeitos, que nada faz diferença se ela morrer aos poucos, mas ela diz-me sempre que esta é a vida que ela escolheu, a de sofrimento e não faz sentido ser feliz.
Hoje ela me disse que parasse por aqui, mas que voltaria a dizer-me quando escrever mais um pouco. Não poderei prosseguir pois Ela é Assim....

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